OPERA IN A PRISON – with TRACTION technology
May 26th 2021
Mozart Pavilion Project – Performance “Só Zerlina ou Cosi fan Tutte?”.
Grand Auditorium of the Calouste Gulbenkian Foundation, July 2018.
Integrating former inmates back into society is one of the most significant challenges faced in the entirety of the prison system, especially when it comes to young offenders. Leiria has two prisons, one of which is the only one of its kind in Portugal, as it houses young people aged between 16 and 25. The circumstances faced in Portuguese prisons have been somewhat altered as of late, leading to efforts being made to promote reintegration and inclusion through dialogues entered into using artistic languages. In recent years, SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos has run a project in the unique prison, founded on classical music, the results of which have been of particular relevance to all involved. The project’s primary outcome, which is why it has been so notable, has been providing prisoners with the tools they need to develop personal, social, professional and artistic skills to ease and support their integration back into society when they are released. The project was entitled “Ópera na Prisão” (Opera in Prison). The results of this project helped prove one of the assumptions that brought it to life: that to successfully reintegrate prisoners into society, work carried out within the establishment while they are serving time is simply not enough; it is essential that work is also carried out alongside the people waiting for them on the outside – their security network – such as families, girlfriends and friends. The project also helped prove that Opera, and musical theatre in general, is an artistic genre with enormous potential for helping these young people work on their emotions, self-control and self-esteem, allowing them to get to know themselves. The conclusion drawn from these findings is that a permanent space for creation and production made available to the prisoner community is a particularly effective way to meet their needs and is, now, a reality.
It was, therefore, following these findings, and thanks to the impact made by previous projects “Don Giovanni” and “Così fan Tutte?” that SAMP and EPL embraced the TRACTION project.
Firmly founded on the results of previously tested initiatives, this project saw its components developed further, therefore being met with even better results, as well as the introduction of innovative technological resources. This development included increased work carried out outside the prison, the application and testing of technological tools and the use of augmented reality, which in addition to supporting artistic creation, aimed to facilitate and increase inmates’ families and friends’ involvement in the creative and relational process, as well as establishing links with other arts institutions within the TRACTION consortium (Barcelona’s Liceu and the Irish National Opera). As such, technology served as a vehicle of technological progress, supporting and strengthening interpersonal relations between the inmates, their families, the institution, and society at large.
TRACTION highlights the inmates’ talents and artistic skills, helping them express their emotions and facilitating their use of expressive language to channel the participants’ individual and collective energy into more socially acceptable behaviour, contributing to reducing deviations. When brought into contact with art, prisoners are encouraged to overcome their limitations, develop their interpersonal, listening and tolerance skills, in addition to developing personal and creative skills based on a methodology that promotes the active participation of each participant in collaborating, creating and exploring ideas to be discussed and considered by all involved. Everyone has a role to play in creation and sharing, which means that part of this process involves the sharing of the points of view experienced by each member of the EPL community, therefore contributing to opening up a space for flexibility and a consensus to be reached among the community of participants, each of which has a unique point of view. The Opera therefore functions as a means to establish a dialogue between agents, prisoners and family members, technicians, correctional officers, professional artists, and the wider community of Leiria by sharing these various, varied points of view.
Sharing is the pivotal point, and the impetus from which constantly evolving artistic work can be developed, supported by joint reflection, making the project an ever richer and more transformative process for everyone involved, and placing them on the path towards social integration.
Testimonial from a participant:
“I thought the Opera project was wonderful. It felt as if I was stepping into an unknown world. The world of theatre…. but not just any performance, an Opera! An opera performed by superb singers and our kids. And I say “our” because they made each mother, father, and other family members feel like they were all OURS. The performance got them to express their will to live. A desire to be free and make right on their past wrongdoings because we’re all in the same boat, after all. It was the best thing that could possibly have happened to my son – singing, dancing, talking, and even taking part in a performance at Gulbenkian! It was such an enriching experience that when his sentence was up, and he left the EPL-J, he wanted to take part all over again. Thank you on my son’s behalf for everything you gave him and continue to give all our kids. Thank you!”.
Fábio Couchinho
Cláudia Cardoso
| Photo credits to Joaquim Dâmaso |
ÓPERA NA PRISÃO – com a tecnologia TRACTION
26 de maio de 2021
Projeto Pavilhão Mozart – Espetáculo “Só Zerlina ou Cosi fan Tutte?”,
julho de 2018 no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.
A reinserção social dos ex-reclusos, em especial os mais jovens, é um dos maiores desafios de todo o sistema prisional. Leiria tem dois estabelecimentos prisionais, um dos quais único a nível nacional por integrar jovens dos 16 aos 25 anos de idade. A situação vivida nos estabelecimentos prisionais nacionais sofreu uma alteração em tempos recentes que justifica a existência de esforços para a reintegração e inclusão em diálogo com as linguagens artísticas. Nos últimos anos, a SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos, desenvolveu neste estabelecimento um projeto no âmbito da música clássica, com resultados de especial relevo para todos os agentes envolvidos, ajudando a criar, nos reclusos, ferramentas para o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, profissionais e artísticas que lhes facilite e apoie na sua integração social. Tratou-se do projeto “Ópera na Prisão”. Dos resultados deste projeto tornou-se evidente um dos seus pressupostos: para o sucesso na reintegração dos reclusos não basta o trabalho desenvolvido dentro do estabelecimento durante o cumprimento das suas penas, importa trabalhar com as pessoas que, fora da prisão, constituem os seus elos de segurança, como as famílias, namoradas e amigos. Confirmou-se, também, que a Ópera, e na generalidade o teatro musical, é um género artístico de grande potencial para trabalhar os afetos, o autoconhecimento, a autoregulação e a autoestima destes jovens. Daqui, decorre que a existência de um espaço de criação e produção permanentes dentro do estabelecimento prisional, aberto à participação da comunidade prisional, seja de extrema pertinência e, hoje, uma realidade.
Foi no contexto desta aprendizagem e do impacto de projetos desenvolvidos anteriormente, a saber, “Don Giovanni” e “Così fan tutte?”, que a SAMP e o Estabelecimento Prisional de Leiria-Jovens (EPL-J) abraçaram o projeto Traction. Este, assenta no resultado das iniciativas já testadas, com o desenvolvimento das componentes do projeto validadas com melhores resultados e com a introdução de recursos inovadores na tecnologia: um trabalho extramuros reforçado, com a aplicação e testagem de ferramentas tecnológicas e uso de realidade aumentada, que além de apoiarem a criação artística, pretende facilitar e aproximar o envolvimento das famílias e amigos dos reclusos no processo criativo e relacional, assim como estabelecer a ligação com outras instituições artísticas do consórcio Traction (Liceu de Barcelona e Irish National Òpera). Assim, a tecnologia será um veículo não só ao serviço do progresso tecnológico, como um meio de auxiliar e aproximar a relação humana, nomeadamente a familiar, institucional e social dos participantes envolvidos.
Traction, coloca em evidência os talentos e as competências artísticas dos reclusos, ajudando-os a expressar as suas emoções e a facilitar esta linguagem expressiva, por forma a canalizar a energia individual e coletiva dos participantes em atitudes mais integradas socialmente, contribuindo para a diminuição de desvios comportamentais. Os reclusos, pelo contacto com a arte, estimulam a superação dos seus limites, desenvolvem competências relacionais, de escuta e tolerância, além de desenvolverem aptidões pessoais e criativas assentes numa metodologia de trabalho que privilegia a participação ativa de cada participante, onde todos os intervenientes colaboram, criam, exploram ideias, as quais são discutidas e ponderadas por todos. O lugar da criação e da partilha é de todos. Neste processo de trabalho, é fundamental a troca dos diversos pontos de vista de toda a comunidade do EPL-J, abrindo assim espaço para a flexibilidade e consenso entre as várias realidade existentes nesta comunidade. Sendo a Ópera um meio de diálogo entre os vários agentes, reclusos e familiares, técnicos, guardas prisionais, artistas profissionais e comunidade Leiriense, na medida em que os vários pontos de vista são partilhados. Esta é o centro e o impulso do desenvolvimento de um trabalho artístico em constante mutação, apoiado na reflexão conjunta, tornando-o um processo cada vez mais rico e transformador de todos os agentes envolvidos e no caminho da integração social.
Testemunho de um beneficiário:
“O projeto Ópera, para mim, foi algo maravilhoso. Foi entrar num mundo desconhecido. O mundo do espetáculo! Não um espetáculo qualquer, uma Ópera! Uma Ópera interpretada por vozes de excelência e participação dos nossos miúdos. E digo “nossos” porque deram a oportunidade, a cada mãe, pai, ou outro familiar, de sentir que todos eles são NOSSOS. O espetáculo consegue que eles deitem cá para fora a sua vontade de viver. Vontade de ser livre e corrigir os erros do passado, pois afinal estamos todos no mesmo barco. Bem, para o meu filho foi do melhor que podia ter acontecido… cantar, dançar, falar, e até participar num espetáculo na Gulbenkian! Foi uma experiência tão enriquecedora, que quando cumprisse a sua pena, e saísse do EPL-J queria voltar a participar. Agradeço em nome do meu filho tudo o que fizeram por ele, o que fazem por todos os nossos miúdos. Bem-haja!”.
Fábio Couchinho
Cláudia Cardoso
| Créditos fotográficos de Joaquim Dâmaso |